Aparelhos Auditivos: Como Escolher o Correto?

Autor do artigo: Dr. Patrick Franco (Audiologista Diplomado e certificado pelo SNS)

Existem muitos tipos de aparelhos auditivos. Mas qual será o melhor para si?

Neste artigo vai ler:
1 – O que ter em conta ao escolher aparelhos auditivos;
2 – Como funcionam os aparelhos auditivos;
3 – Que tipos de aparelhos auditivos existem;
4 – Quais os recursos e conexões adicionais disponíveis;
5 – O que ter em conta antes de comprar;
6 – Como deve ser feita a reeducação auditiva.

Saiba o que ter em conta ao escolher os seus aparelhos auditivos

Talvez tenha pensado em comprar um aparelho auditivo, mas a aparência condiciona a escolha e a dúvida se realmente ajudará no seu dia-a-dia fica no ar.

Para ajudar na escolha, vamos analisar os seguintes pontos:

  • As opções de aparelhos disponíveis para si;
  • O que ter em conta ao comprar um aparelho auditivo;
  • Como deve ser feita a reeducação auditiva com aparelhos auditivos.

É importante notar que os aparelhos auditivos são próteses desenhadas para o ajudarem a compreender melhor, não ouvir mais alto. Os aparelhos auditivos são dispositivos médicos que foram certificados para a reeducação auditiva, ao contrário dos Amplificadores Auditivos que são feitos para ouvir mais alto, não para compreender melhor.

 

Como funcionam os Aparelhos Auditivos

A maioria dos aparelhos auditivos são constituídos por dois microfones, um amplificador digital e um auscultador. O objetivo de modo geral é captar os sons ambiente e, de acordo com as necessidades do paciente, modificar estes sons de modo a potenciar a compreensão, permitindo uma melhor qualidade de vida. A maioria dos aparelhos auditivos mais recentes são digitais e todos são alimentados por uma pilha tradicional ou uma pequena bateria recarregável.

Para fazer o processamento dos sons, os pequenos microfones dos aparelhos auditivos captam o som ambiente. De seguida, um microchip de computador converte esse som recebido em código digital e o aparelho auditivo analisa e ajusta o som com base na sua perda auditiva, na sua necessidade e no volume de todos os sons que o rodeiam. Os sinais/sons são então convertidos em ondas sonoras e entregues aos seus ouvidos através de pequenos altifalantes, comumente chamados de auscultadores.

 

Tipos de aparelhos auditivos

Hoje em dia, os aparelhos auditivos variam bastante em preço, características específicas (como ligação a outros dispositivos), na forma como são colocados no ouvido e tamanho (existindo alguns totalmente invisíveis).

Apresentamos-lhe os tipos mais comuns, começando com o menor, menos visível no ouvido. A indústria mantém o objetivo de criar aparelhos auditivos mais pequenos para que sejam menos percetíveis e, assim, também mais confortáveis para quem os usa. Ainda assim, o ideal é avaliar essa característica (dimensão) com o benefício de audição esperado. 

CIC e IIC

Os aparelhos auditivos CIC e IIC são feitos sob medida (personalizados fisicamente para um único paciente) que são colocados dentro do canal auditivo de modo a serem muito discretos. 

Os aparelhos auditivos CIC e IIC são dispositivos médicos:

  • Pequenos e discretos;
  • Com menor probabilidade de captar ruídos criados no microfone (vento, cabelo, movimento, entre outros);
  • Que usam pilhas pequenas, com uma vida útil de cerca de 3 a 5 dias.
ITC

Um aparelho auditivo intracanal (ITC) é moldado à medida da sua orelha e encaixa-se parcialmente no canal auditivo. 

Um aparelho auditivo ITC é um dispositivo médico:

  • Que inclui recursos que não cabem em aparelhos mais pequenos;
  • Menos discretos que os CIC e IIC mas que não necessita ter parte do dispositivo atrás do pavilhão auricular (Orelha).
ITE

Um aparelho auditivo intra-auricular (ITE) é feito sob medida em dois estilos – um que preenche a maior parte da área em forma de tigela do ouvido externo (concha completa) e outro que preenche apenas a parte inferior (meia concha). 

Um aparelho ITE é um dispositivo médico:

  • Que inclui habitualmente recursos que não se encaixam em aparelhos menores permitindo também uma maior amplificação dos sons para perdas auditivas mais importantes;
  • Que pode ser mais fácil de manusear;
  • Usa uma pilha normalmente maior, pilha 312 ou 13 (a pilha 13 pode durar cerca de 15 dias);
  • Mais visível no ouvido do que os restantes aparelhos auditivos feitos totalmente sob medida.
BTE

Um aparelho auditivo atrás da orelha (BTE) encaixa-se na parte superior do pavilhão auricular e fica atrás do mesmo. Um tubo acústico liga o aparelho auditivo a um molde personalizado ou a uma oliva standard que encaixa no canal auditivo. O som é produzido no equipamento e enviado pelo tubo acústico para o canal auditivo. Este tipo de aparelho auditivo é apropriado para todas as idades e para praticamente todos os tipos de perda auditiva.

Um aparelho auditivo deste tipo é um dispositivo médico:

  • Que geralmente é de maior dimensão que os restantes aparelhos, mas não é o maior;
  • Que possui na actualidade microfones direcionais;
  • Que é capaz de maior amplificação permitindo uma correção para problemas auditivos mais profundos;
  • Que dispõe de modelos com baterias recarregáveis.
RIC

O aparelho auditivo com auscultador no canal (RIC ou RITE) é semelhante a um aparelho auditivo retroauricular, BTE, no entanto são bem mais pequenos e discretos, apresentando o altifalante no canal auditivo. Um condutor elétrico (conhecido por fio), liga o equipamento atrás do pavilhão auricular ao altifalante, sendo que o som é produzido diretamente no canal auditivo à semelhança dos aparelhos feitos totalmente à medida (IIC, CIC, ITC e ITE)

Um aparelho auditivo RIC é um dispositivo médico:

  • Que se adapta muito bem a qualquer paciente, seja pelas multi-possibilidades que fornece ao seu Audiologista para o poder ajudar seja pela sua discrição e simplicidade de utilização;
  • Que dispõe de modelos com baterias recarregáveis.
Mini BTE

Um aparelho auditivo Mini BTE é um variação do aparelho auditivo retroauricular com tubo fino em vez do tubo acústico (também pode ser adaptado com tudo acústico).

Um aparelho auditivo Mini BTE é um dispositivo médico:

  • Muito semelhante ao BTE mas de menor dimensão.

 

Recursos e conexões adicionais

Alguns recursos e conexões adicionais e opcionais dos aparelhos auditivos melhoram sua capacidade de ouvir em situações e ambientes específicos:

  • Redução de ruído: todos os aparelhos têm redutores de ruído mas a sua eficácia vai depender do modelo e da tecnologia do mesmo. Alguns dispositivos mais avançados apresentam redução a ruídos específicos, como por exemplo ruído do vento, eco, sons de impulso, entre outros;

     

  • Microfones direcionais: os microfones direcionais no aparelho auditivo permitem a identificação da origem do som, ajudando na identificação da importância desse som na situação em questão. Alguns aparelhos auditivos são capazes de focar numa direção específica. Os microfones direcionais podem melhorar a compreensão em ambiente ruidoso;

     

  • Baterias recarregáveis: alguns aparelhos auditivos usam baterias recarregáveis. Isto pode facilitar a manutenção, eliminando a necessidade de trocar de pilhas regularmente;

     

  • Bobine: as bobines facilitam a audição durante um telefonema ou em locais públicos que disponham deste equipamento. A bobine permite captar o som diretamente sem a necessidade dos microfones, ou seja, poderá ser desligado o som ambiente (ruído e outros) para se obter a melhor qualidade do que realmente é importante (informação na bilheteira, música, teatro, ou outro). A ideia é semelhante a colocar os auscultadores do telemóvel para ouvir apenas o que vem do telemóvel;

     

  • Conectividade sem fio: cada vez mais os aparelhos auditivos podem interagir com dispositivos compatíveis com Bluetooth, como telemóveis, computadores e televisões;

     

  • Controlos remotos: alguns aparelhos auditivos têm a possibilidade de ter um controlo remoto para que o paciente possa ajustar facilmente as configurações sem tocar no aparelho auditivo em si. Alguns aparelhos podem ainda ligar-se ao telemóvel e possuem apps para fazer as mesmas configurações referidas anteriormente;

     

  • Entrada de áudio direta: esta funcionalidade permite ligar o aparelho diretamente ao áudio de um computador, televisão ou outro dispositivo através de uma antena ou acessório específico para o efeito. Muito utilizado em escolas para crianças, mas não só;

     

  • Programação variável: alguns aparelhos auditivos podem armazenar várias configurações pré-programadas para várias necessidades e ambientes auditivos. Assim, ao passar de um ambiente para outro, o aparelho muda as configurações automaticamente se disponível esta função ou o paciente pode modificar de acordo com as suas necessidades.

     

  • Sincronização: os aparelhos são programados para funcionarem, em regra geral, em conjunto, de modo a que os ajustes feitos num aparelho auditivo para um lado (controlo de volume ou alterações de programa) sejam também feitos no outro aparelho, permitindo um controlo mais simple e melhores resultados.

Antes de comprar

Ao procurar um aparelho auditivo, explore todas as opções para entender que tipo de aparelho auditivo é o mais ajustado à sua situação. Pessoas com a mesma perda auditiva podem precisar de aparelhos muito diferentes, seja por razões anatómicas ou patologias associadas. 

Para além disso deve sempre fazer uma avaliação por um Audiologista antes de iniciar o processo de reeducação auditiva:

  • Um check-up: consulte o seu médico ou Audiologista para descartar causas corrigíveis de perda auditiva, como cera de ouvido, infecção ou outros. Deve sempre fazer um exame completo de audição com o Audiologista (Otoscopia, Audiograma Tonal Simples e Audiograma Vocal);

     

  • Experimente os aparelhos sem compromisso: a aquisição de aparelhos auditivos deve ser sempre acompanhada de toda a informação necessária, para além disso, deve poder testar os aparelhos para perceber o benefício e se se adapta a eles. Teste os seus aparelhos auditivos até 30 dias;

     

  • Pense nas necessidades futuras: pergunte se o aparelho auditivo que você escolheu é capaz de aumentar a potência para que ainda seja útil se sua perda auditiva piorar. Os aparelhos auditivos não funcionam nem servem para sempre, mas devem prever a evolução da perda auditiva entre três a cinco anos, caso excepcionais podem requerer um aparelho auditivo antes dos três anos;
  • Verifique se há garantia: certifique-se de que o aparelho auditivo inclui garantia e que a mesma cobre peças e/ou mão de obra, além dos dois anos de lei. algumas peças apenas dispõe de 3 meses de garantia e isso é normal se disponível faça um seguro para estas situações, incluindo perda e roubo.

Planeie o investimento. Ainda que comparativamente com o benefício que trazem os aparelhos auditivos sejam a melhor opção para devolver a tranquilidade diária, o custo dos aparelhos varia bastante podendo chegar aos milhares de euros. Relembro a importância de fazer um seguro na compra dos seus aparelhos. Verifique com o seu Audiologista se existem apoios para o seu caso (Seguros de saúde, ADSE, outros)

 

Reeducação Auditiva

Acostumar-se a um aparelho auditivo leva tempo. Provavelmente notará que a sua capacidade auditiva melhora gradualmente à medida que se acostuma ao aparelho auditivo e à amplificação do som feita pelo mesmo. Até sua própria voz soará diferente quando usar um aparelho auditivo. É normal, não se preocupe, o seu cérebro está habituado a um determinado registo e os aparelhos auditivos irão desestabilizar esse registo, daí a importância de uma boa reeducação e um bom acompanhamento. Quando se avança para a reeducação auditiva pela primeira vez existe todo um processo realizado pelo seu Audiologista para o ajudar a recuperar ao máximo a sua qualidade de vida, não irá ouvir tudo como quando tinha 20 anos, mas irá sentir o benefício e perceber o quanto o seu dispositivo médico o vai ajudar a preservar a sua audição.

Ao usar um aparelho auditivo pela primeira vez, idealmente no período experimental, lembre-se destes pontos:

  • Os aparelhos auditivos não vão recuperar a sua audição “normal”. Melhoram no entanto a sua qualidade de vida e daqueles que o/a rodeiam pelo facto de permitirem melhorar a sua interação com o ambiente que o rodeia. Evitar um carro fora do campo de visão, ouvir o cantar dos pássaros na primavera, poder compreender e melhor comunicar com familiares e amigos, entre outros.
  • Dê tempo para se habituar ao aparelho auditivo. Leva tempo para se acostumar com seu novo aparelho auditivo. Mas quanto mais usar, mais rapidamente se ajustará e terá o maior proveito possível.

     

  • Pratique o uso do aparelho auditivo em diferentes ambientes. A sua “audição amplificada” soará diferente em lugares diferentes.

     

  • Procure apoio e mantenha-se positivo. A sua vontade e o apoio da família e amigos são determinantes no sucesso com seu aparelho auditivo. Pode também considerar fazer parte de grupos de apoio para pessoas com perda auditiva ou que são novos utilizadores. A partilha de informação torna mais fácil o uso diário.

     

  • Peça ajuda a especialistas. Para além de comprar os aparelhos, é fundamental que todos os ajustes sejam feitos para lhe dar mais conforto e, ao mesmo tempo, que tire todas as dúvidas sobre a utilização dos mesmos. Aproveite todos os momentos de contacto com o seu médico ou audiologista para fazer um uso correto e mais proveitosos sobre os seus aparelhos auditivos.

A utilização e sucesso no uso dos seus aparelhos tem como base o uso regular dos mesmos, bem como o cuidado na sua manutenção. Para além disso, o seu audiologista pode informá-lo/a tirar maior e melhor partido dos mesmos ou mostrar-lhe novos aparelhos e funcionalidades.

O objetivo é que os seus aparelhos auditivos não sejam um “extra” para si, mas que os mesmos façam parte do seu dia-a-dia sem que os note.

Se ao mesmo tempo são os zumbidos que o/a incomodam, leia o nosso artigo sobre: zumbido nos ouvidos.

Não descure a sua audição.

É fundamental cuidar da sua audição e nenhum sintoma deve passar para segundo plano.

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